Desabafo do desabamento — ou sobre os primeiros dias sem você

Alexandre de Almeida
2 min readMar 12, 2021

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Vi você aí, sentado, de costas pra mim. Não me pareceu um convite para um abraço amistoso, com direito a um beijo no rosto — ou na boca, sei lá — e não era. Acho que estava mais para uma pessoa esperando alguém se sentar ao lado, olhar para você encarando o horizonte do sol poente e fazer a pergunta mais ingênua: “o que houve?”

Depois disso, você aperta os olhos. Cerra um pouco esse horizonte e os fecha de vez. Vira para esse alguém, os abre e deixa a lágrima escorrer devagar. O vento do mar me cega. É essa maresia. Inebria a gente, faz o suor da caminhada escorrer fresco pelo rosto e pelas costas. Você responde que “não dá mais”, e aí eu acordo.

Olho o celular, as mensagens. Já faz um tempo que a gente não conversa. Alguns dias, para ser mais exato. Pra mim, quase um mês. Pode até ser mais. Você conhece minhas intensidades. Também conhece meu jeito cuidadoso, carinhoso. Infelizmente, não sei controlar isso. Só sei que nem tudo está bem como, outro dia, eu disse para qualquer um que estava.

São essas palavras, esses sonhos corriqueiros, essas vontades de te mandar uma mensagem humilhante pedindo pra gente ficar de novo… Eu nem quero isso, sabe? Só queria esquecer de todas as vezes perdidas de falar “te amo” ou “tô com saudades”. Não é nem que tudo tenha sido dito em vão; parece mais uma lembrança esquecida. Vezes perdidas, como eu disse. Não um perder de se acabar, mas de jogar fora.

Não sei, talvez eu tenha desejado demais algo infundado. Lembro de ter dito isso: querer algo que os dois não querem. Chega a ser hilário, visto que, há algum tempo, declarei correr léguas de relacionamentos. O amor não era mais pra mim. Meus dias buscar namoro estavam acabados. E, bam!, dei de cara com a parede. Aliás, que parede.

Me assustei com o sonho porque nele você se expressa. Só podia ser em sonho mesmo. Talvez seja só eu sendo demais aquela pessoa que gosta de ouvir os outros, quer saber tudo da sua vida, do seu dia e quer compartilhar o mesmo. Mas você nem queria compartilhar nem ouvir.

É cedo para sofrer tanto? Não. Porque já vinha sofrendo há um tempo. Acho que esse é só um complemento, uma medida drástica da minha mente fértil, iludida com os escritos mentais que tenho feito. Ando triste, cansado com Clarice. “No geral eu sou alegre.”

Mas é. É assim mesmo. O mundo não é mesmo um moinho, Cartola? Ora, ora. Vou nessa. Se eu continuar para um próximo parágrafo, vou acabar citando todas as músicas daquela playlist de MPB que criei.

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Alexandre de Almeida

Um virginiano falando sobre literatura, séries, música e cultura LGBTQIAP+