Não há problema em ser amigo de todo mundo

Alexandre de Almeida
3 min readJan 17, 2019

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Não sei bem como classificar isso. Pode ser um defeito, pode ser uma qualidade. A questão é que faço amizades muito facilmente. Isso não é falsa modéstia. Desde cedo, sempre fui muito sociável. Aprendi isso com meus pais, casal de igreja, de pastoral familiar, que fala com todo mundo e consegue realizar qualquer coisa graças às amizades.

Por mais bullying que eu sofresse na escola, por menos estudioso que eu fosse, eu tentava fazer amizade com as pessoas. Nunca consegui me vingar de ninguém por nada, mesmo porque nem tentei. Porque é perca de tempo. No último ano do ensino médio é que descobri o poder de devolver um troco diferente a quem lhe trata mal, lhe despreza.

Mas as pessoas… Todo mundo, em dado momento, vai pensar diferente de você. Não existe um clone seu habitando a Terra e fazendo todas as merdas que você não consegue fazer — e vice versa. Ninguém vai valorizar, por tempo suficiente, aquela sua amizade tão edificada e dedicada a lhe dar bons momentos.

É por isso que se aproveita essas coisas. Esses encontros no barzinho daquela esquina, as risadas na praça de alimentação do shopping, as carreiras na chuva, o Uber dividido… Não existe melhor maneira de provar uma amizade, por menos que ela dure.

Pensando assim, eu faço um novo amigo toda semana. Desfaço outros, porque quase ninguém fica na sua vida. É arriscado demais se permitir sofrer por quem se afasta. Toda essa amabilidade me torna propenso, também, a ser compreensivo com as pessoas. Não é possível sentir uma pessoa se afastando por que ela não consegue visualizar suas mensagens em determinado dia.

Está acontecendo e, se você não puder ajudar como quer, pode tentar fazer do seu jeito. Ou simplesmente se afastar, se é o que parece mais certo.

A verdade que ninguém esquece ninguém. Não dá pra passar uma borracha nas lembranças e fingir que a pessoa com quem você estudou durante três anos nunca existiu, apesar dos pesares.

Mas o melhor de ser “amigo de todo mundo” é que a gente conhece visões diferentes. Eu adoro isso: poder enxergar algumas coisas pelos olhares de outras pessoas. O único problema é que, por causa disso, quem tem muitas amizades se deixa influenciar por elas.

É uma questão de autocontrole, de opinião concreta. A gente sabe disso. Mas também é bom aproveitar esses choques de opinião para construir sua própria, não para seguir a dos outros. E isso, em verdade, é uma questão de consciência.

A última coisa que quero deixar a entender é: ser amigo de qualquer pessoa não te faz inimigo de ninguém. “Ah, mas vai colocar isso na cabeça de ciclano”. Quem sou eu pra colocar alguma coisa na cabeça dos outros?! Aprendi — e ainda estou aprendendo — a não fazer julgamentos. Se outros fazem, não é problema meu. Simples.

Porém, isso não lhe impede de selecionar quem está por perto e com quem é melhor tomar cuidado. Dá pra ter vínculo com muita gente sem precisar ser totalmente transparente sobre sua vida e sair bem do jogo da vida. Você só precisa conhecer bem as pessoas — ou até onde elas deixam você conhecê-las.

Foto: Harli Marten/Unsplash

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Alexandre de Almeida

Um virginiano falando sobre literatura, séries, música e cultura LGBTQIAP+